Falar em tratar os animais na recria, fornecendo 1% do seu peso em ração, pode parecer loucura, especialmente em um país como o nosso, onde as condições para produção a pasto são extremamente favoráveis. No entanto, a recria intensiva a pasto pode trazer grandes benefícios se bem manejada.
No entanto, quando novas estratégias e tecnologias surgem, elas merecem ser analisadas, contextualizadas e, acima de tudo, justificadas dentro da porteira.
Em vez de apontar o dedo e dizer que não vai funcionar, o mais prudente é observar quem já está aplicando a RIP com sucesso e se perguntar:
- O que eles estão fazendo para colher bons resultados com essa estratégia?
- Qual é o cenário e contexto da fazenda?
- Qual é a estrutura e o operacional necessário?
E, mais importante, quais são os resultados obtidos?
RIP é para todo mundo?
Com certeza não!
Mas, se bem trabalhada, essa é uma estratégia que pode trazer ganhos significativos para a fazenda, tanto em termos de produção e lucro por hectare quanto na utilização mais eficiente da terra e das áreas da propriedade.
3 Cenários para pensar na RIP
1 ) Acelerar o Ciclo de Recria
Quando olhamos para o sistema tradicional de pecuária, é comum ver que a recria pode levar até 2 anos. Se você já procurou por reposição, deve ter notado a quantidade de animais sobreanos disponíveis para compra – um sinal claro de que o ciclo é longo.
Com o conceito do Boi777, conseguimos reduzir esse período para 1 ano, ajustando a nutrição dos animais com o uso de suplementos e com isso dobrando o número de giros na mesma área.
Na RIP, ao fornecer ração para os animais a pasto, é possível aumentar a lotação e ao mesmo tempo acelerar o ganho de peso e com isso realizar até 3 giros em 2 anos.
Para efeito de comparação: enquanto o sistema tradicional teríamos 1.000 animais em 2 anos, no Boi777 podemos ter 2.000, e na RIP 4.000 animais no mesmo período. É uma transformação que pode dobrar, ou até quadruplicar, a eficiência da sua fazenda!

2 ) Otimizar o Uso da Terra
Com a recria mais rápida e uma lotação maior, a RIP abre novas oportunidades para otimizar o uso e ocupação da terra. Ao concentrar a recria em uma área, é possível:
- Fazer uso das áreas liberadas para outros fins, como TIP ou produção de silagem, por exemplo.
- Aumentar o número de animais na fazenda e a produção de arrobas, maximizando a produtividade da sua propriedade.
3 ) Abastecer a Intensificação da Engorda
Para fazendas que fazem a recria e engorda dos animais, a RIP pode ser a chave para manter o fluxo constante de animais para a engorda intensiva.
Ao adotar, por exemplo, a TIP na fazenda, temos o aumento da demanda de animais para serem engordados. Nesse cenário, aumentar o número de animais na recria, reduzindo seu tempo, seria uma estratégia para “abastecer” de forma mais continua a demanda gerada pela engorda.
Perceba que, implementar a RIP requer uma visão holística da sua fazenda, onde cada aspecto do ciclo produtivo é otimizado para obter o máximo de resultados.
Note que, nos 3 cenários descritos, a análise bio-econômica da RIP transcende a simples conta do desembolso por cabeça (custo) vs. GMD obtido (receita).
O que é e resultados esperados com a RIP
A Recria Intensiva a Pasto (RIP) consiste em fornecer ração para os animais durante a fase de recria, na quantidade de 0,7 a 1,0% do peso dos animais. Esse fornecimento pode ser diário, mas, ao contrário da estratégia de Suplemento Proteico Energético (0,3 a 0,5%), é possível modular o consumo dos animais, ajustando a formulação para que a quantidade de ração fique restrita à meta de 0,7 a 1,0%. Isso permite usar o sistema de “cocho cheio” e abastecimento semanal, com a frequência ajustada conforme a capacidade do cocho.
Essa modulação é viável porque, como a ração representa de 40% a 50% (ou até mais em algumas situações) do consumo total do animal, o tempo de pastejo necessário reduz, fazendo com que o maior tempo gasto no cocho não seja um problema.
Poder modular o consumo de ração, faz da RIP uma estratégia que viabiliza a intensificação em operações que desejam explorar maiores níveis de suplementação, porém esbarram na rotina operacional do trato diário.
Trabalhos realizados na Apta de Colina/SP mostram que, dentro de uma mesma fase (seca ou águas), há uma consistência no padrão de resposta dos animais. Isso ocorre porque, ao fornecer ração, o impacto da disponibilidade do pasto diminui, já que o animal precisa de menos pasto para complementar sua dieta.
Assim, o padrão de resposta dos animais tende a ser mais estável dentro da mesma fase, independentemente das oscilações na oferta e estrutura do pasto.
Lembre-se que, GMD é dado pelo consumo do animal. Sendo assim, se 50% é ração, a qualidade dos outros 50% afetam o ganho. Ou seja, mudar a qualidade (composição nutricional) do pasto (seca e águas) interfere na resposta do GMD.


No gráfico à esquerda, temos o GMD adicional obtido com a RIP em comparação ao GMD controle (eixo horizontal). Este representa o ganho de peso esperado apenas com pasto e mineral. Observe que quanto menor o GMD controle (ou seja, pior o consumo – qualidade ou quantidade – de pasto), maior o ganho adicional com a RIP.
Já no gráfico à direita, vemos o GMD adicional obtidos variando a lotação dentro de cada uma das estratégias de suplementação. Note que, no caso da RIP, o ganho adicional entre pastos mantidos a 15 cm (maior lotação) e 35 cm (menor lotação) é muito menor do que a diferença do manejo do pasto fazendo uso da suplementação mineral.
Perceba que, ao adotar a RIP, é crucial pensar em como explorar melhor o pasto (ou seja, a lotação). A análise deve se concentrar no ganho adicional por área e não apenas por animal.

Pontos de Atenção na Recria Intensiva a Pasto (RIP)
Ao adotar a RIP, é essencial estar atento a alguns pontos-chave para garantir que a estratégia seja bem-sucedida e traga os resultados esperados, como:
1 . Gestão de Insumos
A gestão eficiente dos insumos é crucial para o sucesso da RIP. Isso inclui a compra e o estoque de ração, que afetam diretamente o custo da formulação e, consequentemente, o custo final. É fundamental monitorar os preços dos insumos, planejar as compras com antecedência e garantir que o estoque seja mantido em níveis adequados para evitar interrupções no fornecimento ou compras emergenciais.
2 . Formulação da Dieta
Este é um ponto que ainda demanda mais estudos. Porém, você pode pensar na formulação como dieta (ração mais pasto), para que ela tenha pelo menos 16% de Proteína Bruta (PB). Na prática, isso geralmente significa trabalhar com rações que contenham entre 20% a 25% de PB, dependendo da época do ano e da qualidade do pasto disponível. Essa formulação ajuda a garantir que os animais recebam os nutrientes necessários para um ganho de peso eficiente, evitando o boi bolinha.
3 . Objetivo de Recria e Engorda
A RIP permite uma redução significativa no tempo de recria, mas é importante lembrar que o objetivo final é entregar um animal pesado para a engorda. Idealmente, o peso do animal ao final da recria deve estar em torno de 14 a 15 arrobas. Importante lembrar que, mesmo fazendo a RIP, precisamos fazer a adaptação dos animais à nova dieta quando eles entrarem na fase de engorda.
Quadro Resumo da RIP

Lembre-se que o GMD é dado pelo consumo do animal. Sendo assim, se 50% é ração, a qualidade dos outros 50% importam e afetam a resposta. O padrão consistente de resposta dentro de uma mesma fase pode ser explicado pela redução da necessidade de consumo de alimento via pastejo, “anulando” oscilações na oferta, estrutura, etc., dentro da mesma fase.
A unidade produtiva é a área, não o animal. Reflita sobre a lógica do consumo e como ela se aplica nas diferentes situações da sua fazenda. A RIP não é apenas sobre o animal, mas sobre maximizar o uso da sua terra e melhorar a eficiência da produção.
Dito isso, faça as suas contas!
Seguimos…