Por que usar Ureia em Suplementos

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Matheus Moretti

O uso de ureia na formulação de suplementos para bovinos a pasto é frequentemente cercado de receios e dúvidas entre pecuaristas.

O medo que circunda o uso da ureia se origina em relatos de intoxicação e mortes de animais. No entanto, é fundamental entendermos que a ureia em si não é a vilã dessa história. O verdadeiro problema reside no manejo incorreto e na falta de conhecimento sobre como utilizar a ureia de maneira segura e eficaz nas formulações.

A ureia é um ingrediente amplamente utilizado na formulação de suplementos e rações/dietas para bovinos a pasto ou confinamento. Seja durante o período das secas ou das águas, usar ureia em suplementos é importante porque ela é uma importante fonte de nitrogênio não-proteico na formulação, sendo essencial para promover a síntese de proteínas microbianas no rúmen e ajudar da degradação da forragem consumida pelo animal.

Entender o papel da ureia na nutrição dos bovinos a pasto e aplicá-la corretamente pode trazer inúmeros benefícios à produção, otimizando o desempenho do rebanho e reduzindo custos.

Como dito, a ureia é uma fonte de nitrogênio não-proteico (NNP) e não deve ser confundida com fontes de proteína verdadeira, como os farelos de soja, amendoim ou algodão.

Quando ingerida, a ureia é rapidamente degradada no rúmen, liberando nitrogênio para as bactérias ruminais. Essas bactérias, por sua vez, utilizam esse nitrogênio para a degradação da fibra da forragem consumida pelos bovinos, facilitando a digestão e aumentando a eficiência do processo de fermentação ruminal.

A ureia não é uma proteína verdadeira porque, apesar de fornecer nitrogênio necessário para a síntese de proteínas no rúmen dos ruminantes, ela não é fonte de aminoácidos e cadeias carbônicas.

A ureia fornece nitrogênio não-proteico, que é utilizado pelos microrganismos ruminais para sintetizar proteínas no rúmen. Esses microrganismos convertem o nitrogênio da ureia em amônia, que é então utilizada para sintetizar aminoácidos e proteínas microbianas. A ureia, portanto, contribui para o processo de degradação de fibras e metabolismo das proteínas, mas não é uma proteína por si só.

As proteínas verdadeiras, como os farelos de soja, amendoim e algodão, são compostos complexos formados por longas cadeias de aminoácidos. Elas fornecem todos os aminoácidos essenciais e não essenciais necessários para o crescimento e manutenção dos tecidos do animal.

A ureia é rapidamente degradada no rúmen, liberando nitrogênio em uma forma que os microrganismos podem utilizar, enquanto as proteínas verdadeiras são degradadas mais lentamente e fornecem além de N, compostos carbônicos.

Sendo assim, ao formularmos um suplemento, precisamos garantir um equilíbrio adequado entre nitrogênio não-proteico e proteínas verdadeiras degradáveis, maximizando a síntese de proteínas microbianas no rúmen e melhorando a degradabilidade e a eficiência da utilização da forragem consumida pelo animal.

Uma das principais vantagens do uso da ureia é sua capacidade de reduzir o custo das formulações de suplementos, sem comprometer a qualidade nutricional.

Nas condições do Brasil Central, tanto as formulações de seca quanto as de águas podem incluir ureia, mas em proporções diferentes.

Durante a seca, quando o pasto apresenta maior deficiência de proteína e uma proporção mais alta de fibra, é necessário aumentar a inclusão de ureia nos suplementos para compensar essa falta. Já nas águas, onde o pasto é mais rico em proteína, a necessidade de ureia é menor. No entanto, o manejo correto dos suplementos que contêm ureia é essencial para evitar problemas, como a intoxicação dos animais.

A intoxicação por ureia ocorre quando a quantidade de ureia consumida excede a capacidade do rúmen de processá-la eficientemente.

A ureia, ao ser consumida pelo animal, quando chega no rúmen, é degradada pelas bactérias ruminais, que utilizam o nitrogênio para sintetizar proteínas microbianas. No entanto, quando consumida em excesso, as bactérias não conseguem usar todo o nitrogênio, resultando em um acúmulo de amônia no rúmen. Esse excedente é então absorvido pela parede ruminal e entra na corrente sanguínea. Por ser tóxica no sangue, a amônia é “mandada” para o fígado para ser metabolizada. Esse aumento na quantidade de amônia que chega ao fígado sobrecarrega o sistema, e a amônia não metabolizada pode se acumular no sangue, afetando o sistema nervoso central, intoxicando o animal, podendo levar a morte se não for tratado a tempo.

A chave para evitar a intoxicação é a correta formulação e manejo do fornecimento, garantindo que a quantidade de ureia seja adequada às necessidades ruminais sem ultrapassar a capacidade de processamento do organismo.

Para garantir a segurança e eficácia no uso da ureia em suplementos para bovinos, é fundamental adotar boas práticas de manejo, sendo elas:

1 ) Manejo de Cochos: Em períodos de chuvas, cochos podem acumular água, o que pode solubilizar a ureia e resultar em problemas de intoxicação. Para evitar isso, faça pequenos furos nas laterais dos cochos para permitir a drenagem da água. Além disso, monitore regularmente a presença de água nos cochos e ajuste a formulação se necessário.

2 ) Adaptação dos Animais: Ao introduzir uma nova formulação com ureia, adapte os animais gradualmente para evitar choques no sistema digestivo. Comece com pequenas quantidades e aumente progressivamente. Na dúvida, faça adaptação!

3 ) Cuidados na Mistura: Se a ração for preparada na fazenda, tome cuidado com a dosagem e a mistura da ureia. Um erro na quantidade pode levar a problemas sérios de saúde para os bovinos.

4 ) Treinamento da Equipe: Certifique-se de que a equipe responsável pela suplementação e manejo dos animais esteja bem treinada sobre o uso da ureia e as práticas recomendadas. Isso ajuda a garantir a aplicação correta e segura do ingrediente.

5 ) Fornecimento: É crucial evitar faltar produto no cocho, visto que a sua falta pode fazer com que os animais cheguem ao cocho com fome quando suplementados, levando a um consumo rápido e excessivo de produto.

Esses cuidados ajudam a garantir que a ureia seja utilizada de forma segura e eficaz, minimizando os riscos de intoxicação e maximizando os benefícios nutricionais para os bovinos. A atenção a esses detalhes contribui para a saúde dos animais e a eficiência da produção, promovendo um manejo mais seguro e eficaz na suplementação com ureia.

Utilizando a Ureia nas Formulações

A questão da ureia ter 281% de proteína bruta (PB) pode ser um pouco confusa à primeira vista, mas é uma questão de conversão entre nitrogênio e proteína bruta.

O primeiro ponto para entender esse valor é saber que a fórmula para converter nitrogênio em proteína bruta é baseada na média de que a proteína é composta de 16% de nitrogênio. Esse valor é usado para converter o nitrogênio em proteína bruta com o fator 6,25 (100 / 16 = 6,25).

Sabendo disso, quando aplicamos esse calculo para a ureia, temos:

Concentração de Nitrogênio na Ureia: A ureia contém cerca de 45% de N.

Conversão de Nitrogênio para Proteína Bruta: Para converter a quantidade de nitrogênio em proteína bruta, usamos o fator de conversão 6,25.

Exemplo de Cálculo:

Se 100 gramas de ureia contêm 45 gramas de nitrogênio, a proteína bruta equivalente pode ser calculada como:

  • Proteína Bruta Equivalente = Quantidade de Nitrogênio × 6,25
  • Proteína Bruta Equivalente = 45 g × 6,25= 281,25 g

Ou seja, 100 gramas de ureia fornecem aproximadamente 281 gramas de proteína bruta equivalente. Essa alta porcentagem se deve ao fato de que a ureia é uma fonte muito concentrada de nitrogênio, mas isso não significa que a ureia em si seja uma fonte de proteína verdadeira.

Sabendo essa lógica, podemos calcular, descobrir qual é a quantidade aproximada de ureia em um produto. Basta dividir o valor de NNP eq. Proteico do rótulo por 2,81 (quando este estiver em %, ou 28,1 quando este tiver em g) para descobrir a quantidade de ureia na fórmula. Também podemos utilizar esses números para “travar” a quantidade de ureia na formulação, definindo a relação proteica que queremos utilizar. Por exemplo: se queremos formular um proteinado de baixo consumo para seca, com 50% de proteína bruta com relação NNP/PB de 70%, basta calcular:

  • 50% PB x 70% = 35% NNP
  • 35% NNP / 2,81 = 12,45% de ureia

Já falamos em outros textos sobre formulação e relações proteicas em suplementos. Note que dominar esse conhecimento é fundamental para fazer bom uso da ureia em suas formulações. Ao formular suplementos para bovinos a pasto, considerar a inclusão de ureia pode resultar em uma suplementação mais eficiente e econômica, garantindo a segurança e, acima de tudo, produtividade do rebanho.

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