Você já parou para pensar na complexidade que envolve a produção de bovinos de corte? Entender o ecossistema que compõe a pecuária de corte é fundamental para seu sucesso.
A pecuária de corte não é apenas sobre a criação de bovinos, mas sim sobre a gestão de um ecossistema vivo e dinâmico que integra solo, plantas e animais. Esse tripé forma a base da produção pecuária, e a forma como esses elementos interagem determina o sucesso e a sustentabilidade de uma fazenda.
O solo, com suas características e fertilidade, serve como a fundação onde tudo começa. A escolha das espécies forrageiras mais adequadas depende das condições do solo e do clima, e essa escolha é crucial para garantir a forragem mais adequada para ter uma boa produção.
Uma vez definida a espécie forrageira, esta precisa ser gerida de forma eficiente para maximizar seu potencial produtivo e garantir que os animais tenham acesso à melhor estrutura para o pastejo otimizado.
Os animais, ao consumir essa forragem ganham peso, um processo que é influenciado por vários fatores como por exemplo raça, estado fisiológico, condição sexual e histórico nutricional dentre outros.
A conexão entre a qualidade do solo, a produtividade das plantas e o desempenho dos animais é o que determina a produtividade total do sistema, medida em arrobas por hectare.
Dito isso, no texto de hoje, vamos desvendar os segredos desse ecossistema de pastejo.
Você descobrirá como o manejo adequado do solo pode aumentar a produção forrageira, como práticas de manejo do pasto podem otimizar o consumo pelos animais e como a suplementação estratégica pode potencializar o ganho de peso.
Solo: A Base da Sustentabilidade
O solo desempenha um papel fundamental no ecossistema de pastejo. As características físicas e químicas do solo, juntamente com o clima da região, determinam a escolha das espécies forrageiras que serão utilizadas.
Ter em mãos a análise do solo para entender suas necessidades e potencial é fundamental. Normalmente em regiões agropecuárias, regiões com solos mais férteis são destinados a agricultura, “sobrando” para pecuária solos um pouco mais arenosos e/ou com relevo mais acidentado.
Realizar uma análise detalhada do solo de tempos em tempos ajuda a planejar ações corretivas. A análise do solo fornece informações sobre a composição química, incluindo os níveis de nutrientes e a acidez (pH) do solo. Com base nesses dados, é possível tomar decisões sobre a necessidade de correção da fertilidade do solo.
Planta: Produção de Forragem e Gestão do Pasto
A escolha das espécies forrageiras deve ser baseada nas características do solo e nas condições climáticas da região.
Uma vez que a espécie forrageira adequada foi escolhida, sua produção, medida em toneladas por hectare, será é influenciada por fatores como a fertilidade do solo, o manejo das pastagens e as condições climáticas.
Espécies como Brachiaria, Panicum são amplamente utilizadas no Brasil devido à sua adaptabilidade a diferentes tipos de solo e climas. A Brachiaria, por exemplo, é conhecida por sua tolerância à acidez e à baixa fertilidade do solo, enquanto o Panicum é preferido por sua alta produtividade em solos mais férteis.
A escolha das espécies forrageiras é crucial para garantir uma produção eficiente e sustentável. Lembre-se que não existe milagre. Espécies mais produtivas (MS/ha) irão demandar mais em fertilidade do solo e adubação.
A produção de forragem é um aspecto fundamental na produção do pasto. A quantidade de forragem disponível por hectare determina a capacidade suporte do sistema, ou seja, o número de animais que a pastagem pode sustentar.
Uma vez que o clima muda ao longo do ano, precisamos lembrar que a disponibilidade e qualidade nutricional da forragem também varia, afetando a produção do sistema. Forragens “verdes” e em crescimento vegetativo geralmente têm maior conteúdo de proteína e energia digestível, enquanto forragens “secas” tendem a ter maior conteúdo de fibra e menor digestibilidade.
Manter a forragem na altura adequada é crucial para a saúde das plantas e a eficiência do pastejo. Cortes muito baixos podem prejudicar o crescimento das plantas e aumentar o risco de erosão, enquanto cortes muito altos podem resultar em desperdício de forragem.
A frequência de pastejo deve ser ajustada para garantir que os animais tenham acesso contínuo a forragem de alta qualidade sem sobrecarregar o pasto. O pastejo excessivo pode levar à degradação do solo e à perda de produtividade das plantas, enquanto o pastejo insuficiente pode resultar em acúmulo de forragem velha e menos nutritiva.
Animal: Consumo e Desempenho Produtivo
Os animais são o componente final e crucial do ecossistema de pastejo. O consumo de forragem pelos animais e a transformação desses nutrientes em carne são processos influenciados por diversos fatores, como a qualidade da forragem, a genética dos animais e as práticas de manejo.
O consumo de forragem pelos animais é determinado por uma série de fatores, incluindo características do pasto e do animal. Garantida a qualidade do pasto consumido, a conversão do pasto em carne será fortemente influenciada pelas características do animal. Do mesmo modo que na produção forrageira, o clima também deve ser levado em consideração, sendo o Nelore a raça de maior expressão no Brasil.
Animais com genética superior pode aumentar a eficiência do sistema. O estado fisiológico dos animais, como a fase de crescimento ou reprodução, afeta suas necessidades nutricionais e, consequentemente, seu desempenho. O sexo dos animais também influencia desempenho, machos geralmente apresentam maior eficiência produtiva quando comparado às fêmeas e machos castrados. Por fim, o histórico nutricional, ou seja, a qualidade da dieta ao longo da vida do animal, impacta diretamente sua eficiência em converter o alimento em ganho de peso ao longo das fases produtivas.
O desempenho produtivo dos animais, medido em termos de ganho médio diário (GMD), é um indicador crucial da eficiência do sistema. O GMD é influenciado pela qualidade da forragem, que deve ser rica em nutrientes e palatável para os animais.
Integrando Solo, Planta e Animal para Máxima Produtividade

A integração eficaz dos componentes solo, planta e animal é essencial para maximizar a produtividade do sistema de pastejo (@/ha). Visualizar a capacidade produtiva desses componentes permite identificar pontos de melhoria e implementar estratégias que aumentem a eficiência e a sustentabilidade da produção pecuária.
A capacidade produtiva de um sistema de pastejo é determinada pela combinação de solo, planta e animal, onde entender as limitações e potencialidades de cada componente permite uma gestão mais precisa e eficiente.
Das várias ferramentas que podem ser utilizadas para aumentar a produtividade do sistema de pastejo (@/ha), podemos destacar 3 como sendo as principais. A adubação do solo pode aumentar a produção forrageira, permitindo uma maior lotação de animais por área. O manejo do pasto, através controle da altura da estrutura da forragem ofertada ao animal, relaciona-se diretamente ao consumo de forragem pelo animal. A suplementação estratégica pode otimizar o consumo de forragem e aumentar o GMD.
Correção e Adubação do Solo
A acidez do solo, medida pelo pH, pode afetar a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Solos muito ácidos (pH baixo) podem necessitar de calagem para aumentar o pH e tornar os nutrientes mais disponíveis. A calagem não só corrige a acidez, mas também fornece cálcio e magnésio, nutrientes essenciais para o crescimento das plantas.
A análise do solo e a correção da acidez podem ser feitas ao longo do ano, mas é importante considerar o período de pastejo e as condições climáticas locais para garantir a eficácia da correção e minimizar impactos negativos na disponibilidade e qualidade da forragem. Uma prática que poder ser feita é análise após um ciclo de pastejo de águas, realizando a calagem ao final da seca, para aproveitar as chuvas logo no período das águas.
A adubação é feita para fornecer os nutrientes que o solo pode estar deficiente e/ou potencializar o crescimento das plantas.
Fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos são comumente aplicados para corrigir deficiências específicas.
A adubação nitrogenada é uma prática essencial na agricultura e pecuária. O nitrogênio é um dos principais nutrientes necessários para o crescimento das plantas. A aplicação de nitrogênio estimula o crescimento das plantas, aumentando a produção de MS por hectare.
É importante ressaltar que a adubação nitrogenada deve ser parte de um plano de manejo integrado. Ela deve ser deve ser cuidadosamente planejada e integrada à capacidade de colheita, ou seja, uma vez que aumentamos a produção de forragem, precisaremos também aumentar a capacidade de colheita. Lembre-se de considerar o desembolso com a compra de animais.
Manejo do Pasto, ou melhor Manejo do “Bocado”
O manejo adequado do pasto é essencial para maximizar a colheita de forragem pelo animal. O controle da estrutura do pasto, dado pela altura de corte tem se mostrado como um dos principais critérios para o manejo do pasto.
Ao pensar no manejo do pasto, pense em ofertar para o animal uma estrutura que favoreça a formação do bocado, facilitando o pastejo, consequentemente o consumo e o ganho de peso do animal.
Suplementando o animal
A suplementação pode ser utilizada para corrigir deficiências nutricionais na dieta (forragem consumida) dos animais, potencializando o GMD e, consequentemente, a produtividade do sistema.
A suplementação é uma prática estratégica que deve ser encarada como ferramenta para otimizar o consumo e melhorar o desempenho produtivo dos animais.
A suplementação pode ser utilizada para fornecer nutrientes específicos que estão em falta na dieta base de forragem, melhorar a digestibilidade da forragem consumida e aumentar o GMD, ou então explorar efeitos de substituição, afetando o GMD por animal e por área. Existem diferentes tipos de suplementação, como proteica, energética e mineral, cada uma com um objetivo específico para melhorar a nutrição e o desempenho dos animais.
Implementar estratégias de suplementação eficazes pode fazer a diferença entre um sistema produtivo e um ineficiente. Suplementos proteicos são frequentemente utilizados durante a estação seca, quando a qualidade da forragem é menor, para manter o ganho de peso dos animais. Nas águas, abre-se um leque maior de opções quando pensamos na suplementação dos animais, onde, mesmo o pasto tendo maior qualidade, vemos ganhos adicionais com o uso de suplementação proteica (mais esse é assunto para outro texto).
Combine estratégias e otimize a Produtividade
A integração eficaz das práticas de correção do solo, adubação, manejo do pasto e suplementação é fundamental para maximizar a produtividade e a sustentabilidade do sistema de pastejo (@/ha). Ao combinar essas práticas de forma adequada, é possível criar um ambiente favorável para o crescimento das plantas, melhorar a qualidade da forragem e aumentar o desempenho dos animais.
Lembre-se que a busca pela excelência na pecuária de corte não é apenas um objetivo, mas sim uma jornada de constante aprendizado e aprimoramento. Ao compreendermos a importância da integração entre solo, planta e animal, e ao aplicarmos práticas como correção do solo, adubação, manejo do pasto e suplementação de forma estratégica, estamos desvendando os segredos de um sistema produtivo e sustentável. Perceba que pecuária de corte exige conhecimento multidisciplinar!