Que a seca vai chegar é fato! Vamos aprender então como calcular a área diferida para não passar aperto.
Mais cedo ou mais tarde, de forma mais intensa ou mais branda, a estiagem ocorre anualmente em diferentes regiões. Durante esse período, a intensidade das chuvas diminui, as temperaturas caem e os dias ficam mais curtos. Como resultado, o crescimento das plantas é afetado, caracterizando o período de seca. Por isso, saber como calcular a área que será diferida durante o período das águas para “estocar alimento” para seca é crucial.
Uma vez que a produção de forragem irá cair, e a lotação da fazenda se manterá, torna-se essencial planejar estratégias que garantam a oferta de alimento aos animais. Nesse contexto, o diferimento da pastagem surge como uma ferramenta fundamental.
O Que É Diferimento da Pastagem?
O diferimento é uma estratégia simples e de baixo custo (desde que bem executada). Nela, o produtor seleciona determinadas áreas da fazenda no final do período das águas e retira os animais. Esse manejo permite que o pasto cresça livremente, criando uma “reserva” de forragem para a seca. Por isso, entender como calcular a área diferida é fundamental.
Apesar de parecer fácil, alguns fatores podem comprometer a qualidade do pasto diferido e prejudicar a eficiência da técnica de diferimento.
Escolha da Espécie Forrageira
A primeira decisão crucial é a escolha da espécie forrageira. Plantas com crescimento ereto, como as do gênero Panicum (ex.: Capim-Tanzânia e Capim-Mombaça), não são ideais. Elas tendem a formar touceiras e apresentar muitos talos, resultando em pastos de estrutura ruim e de baixa aceitação pelos animais. O risco de acamamento também é maior nesses casos e afeta como calcular a área diferida.
Por outro lado, espécies como as Brachiarias e Cynodons são mais recomendadas. Elas proporcionam melhor estrutura de pastejo e maior aproveitamento da forragem acumulada.
Outros Pontos de Atenção
Além da escolha da espécie forrageira, outros fatores precisam ser considerados para o sucesso do diferimento:
- Momento da retirada dos animais da área
- Condição estrutural do pasto no início do diferimento
- Duração do período de diferimento
- Condições climáticas durante o diferimento
Esses aspectos exigem conhecimento detalhado da área e influenciam diretamente no resultado final da estratégia.
Mitos Sobre o Diferimento
No campo, algumas crenças erradas circulam entre os produtores. Uma delas é a ideia de que o pasto diferido precisa florescer para permitir a ressemeadura natural. Esse conceito não se confirma na prática.
Outro equívoco comum é acreditar que acumular a maior quantidade possível de massa forrageira resultaria em maior ganho de peso dos animais. Na realidade, a qualidade da forragem é mais importante do que o volume acumulado. O excesso de forragem pode dificultar o consumo e resultar em desperdício significativo, afetando como calcular a área diferida.
Para um bom planejamento, é essencial considerar a estrutura do pasto, a relação entre folhas e colmos e a facilidade de apreensão da forragem pelos animais. O gado prefere folhas! Portanto, um manejo que favoreça a formação de um pasto equilibrado é sempre mais eficiente.
Como Calcular a Área de Diferimento
Uma das principais dúvidas dos produtores é como dimensionar a área que deve ser diferida.
A prática sugere reservar cerca de 30% da área total de pastagens para o diferimento. Esse valor, embora comumente utilizado, não é uma regra fixa. Em algumas situações, pode ser insuficiente, levando à falta de pasto. Em outras, pode ser excessivo, resultando em ociosidade de área.
Para definir a área ideal, é necessário considerar a taxa de lotação (TL) da propriedade, tanto na área diferida quanto nas demais.
O primeiro passo é calcular a lotação da fazenda:
Carga total (UA) = Peso total dos animais (kg) ÷ 450
Taxa de lotação (UA/ha) = Carga total (UA) ÷ área de pastagem (ha)
Com esse valor em mãos, aplicamos a equação de Martha Jr. et al., 2003, para definir a área de diferimento:
Área Diferida (%) = 100 × [(TL anual – TL não diferida) ÷ (TL diferida – TL não diferida)]
Área diferida em porcentagem é igual a 100 multiplicado pela diferença entre a taxa de lotação anual e a taxa de lotação da área não diferida, dividido pela diferença entre a taxa de lotação da área diferida e a taxa de lotação da área não diferida.
Exemplo Prático
Se a taxa de lotação da fazenda é 1,0 UA/ha e, durante a seca, espera-se uma taxa de lotação de 1,5 UA/ha nas áreas diferidas e 0,5 UA/ha nas não diferidas, aplicamos a fórmula:
Área diferida = 100 multiplicado por (1,0 menos 0,5) dividido por (1,5 menos 0,5).
Área diferida = 100 multiplicado por 0,5 dividido por 1,0, que resulta em 50%.
Isso indica que 50% da área total deveria ser reservada para diferimento. No entanto, esse valor pode ser alto e causar super pastejo nas áreas não diferidas.
Para corrigir isso, a melhor estratégia seria ajustar a taxa de lotação anual da fazenda ou implementar técnicas complementares, como:
- Suplementação estratégica
- Uso de volumoso suplementar
- Adubação das áreas diferidas
Se a taxa de lotação das áreas diferidas aumentar de 1,5 para 2,3 UA/ha, a nova área diferida seria:
Área diferida = 100 multiplicado por (1,0 menos 0,5) dividido por (2,3 menos 0,5).
Área diferida = 100 multiplicado por 0,5 dividido por 1,8, que resulta em 28%.
Esse valor é mais viável e reduz a pressão sobre as áreas não diferidas.
Conclusão
O diferimento é uma ferramenta valiosa no manejo da seca, mas exige planejamento. A definição da área adequada é apenas o primeiro passo. Conhecer a taxa de lotação e os demais fatores envolvidos permite evitar super ou subpastejo, garantindo maior eficiência na utilização dos recursos. Conheça como calcular a área diferida corretamente.
Cada fazenda é única. Por isso, o planejamento deve ser feito com base nos seus próprios números. A seca vem todo ano, mas com estratégias bem definidas, os impactos podem ser minimizados.