Com a virada do ciclo pecuário e a queda da arroba, o sentimento é que as coisas ficaram mais difíceis, que produzir está mais caro e que a conta não vai fechar no final do ano, não é mesmo? Nesse contexto, é essencial uma análise e ajustes de preços no Ciclo Pecuário.
Certamente a volatilidade dos preços agropecuários é um fator que dificulta a análise econômica dentro da porteira e desafia o produtor que presa pela previsibilidade do negócio.
A virada do ciclo pecuário (para baixo), carrega um custo de estoque para dentro da porteira, e com certeza é o grande desafio do ano. Para quem conhece o seu negócio, existem alternativas e algumas oportunidades de mercado, para o empresário pecuário, arrisco dizer que um bom momento para investir.
Mas este é um assunto para outro texto (comenta no final do texto se você quiser saber mais sobre esse assunto).
A verdade é que, independente do ciclo, no contexto da pecuária:
- É fato que a margem da atividade diminuiu e as coisas estão mais difíceis de que anos atrás.
- É fato também que o produtor que continuar “na média” sentirá cada vez mais esse efeito no bolso e que a atividade tem se mostrado com certa volatilidade ao longo do ano.
- E é verdade também, que a pecuária do futuro não vai aceitar desaforo, afinal, a margem apertou, e ser eficiente em produzir e utilizar os recursos dentro da porteira fará cada dia mais sentido!
- Por fim, é fato que você deve começar a analisar o lucro produtivo, ou seja, o gasto vs. o que se produz separado do lucro econômico, considerando aqui o custo da reposição e seu comportamento em relação a compra e venda das arrobas de estoque (ágio/deságio).
Anote aí: tecnologia, planejamento, gestão e produção eficiente, já faz, e farão cada vez mais, parte do dia a dia da fazenda, obrigando o produtor a produzir mais e melhor para continuar na atividade de modo competitivo.
Bem, apesar deste ser um tópico (eficiência produtiva) intrigante, não é dele que iremos falar hoje, afinal você começou a ler este texto para responder à pergunta que está lá no título: como ajustar a baliza dos preços pecuários?
Antes de seguirmos, responda aí:
- O saco de milho no valor de hoje, está barato ou caro?
- E o bezerro e boi gordo, estão baratos ou caros?
Perceba que, a resposta muda dependendo da posição que você se colocar.
Para quem produz milho a resposta é diferente da resposta de quem o compra. O mesmo acontece com quem produz bezerro e com quem faz a reposição pensando na recria engorda, e, porque não dizer, para quem produz e para quem compra boi gordo.
Atenção: lembre-se que, para o negócio estar bom, o que importa mesmo é o lucro, ou seja, a diferença entre a venda do que foi produzido (receita) e a compra dos insumos/ serviços (custo).
Usando o passado para balizar o presente
Da mesma forma que olhamos para as séries históricas dos preços para discutir tendências, podemos utilizá-las para calcular as relações de troca entre o que vendemos e o que compramos, e assim ajustar a baliza de preço para o momento presente.
Pensando assim, podemos calcular, por exemplo, a quantidade de sacas de milho que podem ser compradas com a venda de uma arroba de boi gordo. Da mesma forma, podemos calcular qual a quantidade de arrobas de boi gordo que são necessárias para comprar um bezerro desmamado. Podemos ainda, fazer essa relação ano a ano e analisar como é o seu comportamento ao longo do tempo.
Colocando o passado em prática
Para seguir na análise, pegamos as duas relações que descrevemos acima e trouxemos ela sob a perspectiva dos últimos 18 anos. Calculamos o valor médio e observamos os valores máximo e mínimo, e utilizamos eles para construir nossa régua de ajuste de preços frente ao cenário atual, tendo os valores de compra em função do valor de venda da arroba.
Na figura 1, apresentamos a quantidade de sacas de milho que era possível comprar com a venda de uma arroba de boi gordo.

Na média do período avaliado, com a venda de uma arroba de boi gordo é possível comprar 3,7 sacas de milho. Vemos também que a melhor relação foi observada em 2015, quando uma arroba de boi comprava 5 sacas de milho (baliza de baixo) e que a pior relação foi em 2012, quando uma arroba de boi comprava apenas 3,2 sacas de milho.
Aplicando então o conceito de relação de troca para ajustar a baliza dos preços, veja como ficaria a baliza de preços esperados para o milho, considerando uma arroba de boi gordo a R$ 260 (sugerimos que você faça as contas considerando a sua realidade de preços).
– Baliza de baixo: R$ 52,00 (R$ 260 ÷ 5)
– Média Histórica: R$ 70,27 (R$ 260 ÷ 3,7)
– Baliza de cima: R$ 82,25 (R$ 260 ÷ 3,2)
A ideia ao fazer essas relações é mostrar que o caro ou barato é relativo, tudo dependerá da relação entre o que se vende e o que se produz, ou seja, um valor isolado não traduz muito a expectativa de lucro do produtor.
Pegando outro exemplo, na figura 2. temos a relação de troca da quantidade de arrobas de boi gordo para comprar um bezerro.

A ideia aqui não é falar que o bezerro está caro ou barato, muito menos assumir partido entre quem produz bezerro ou quem faz recria-engorda. Simplesmente é usar os números para atualizar a baliza dos preços.
Bezerro “barato” ou “caro” está diretamente relacionado ao ciclo pecuário, e a baliza que será discutida tem como objetivo apenas atualizar e trazer os preços para o presente momento.
Pois bem, olhando a série de preços, vemos que hoje (2023), a demanda para a reposição é 8,5 arrobas de boi gordo para comprar um bezerro.
Note que, do período avaliado, 2011 foi o ano com relação menor, demandando 7,2 arrobas de boi gordo para comprar 1 bezerro e 2021 o pior ano (9,2). Na média, no período avaliado, esta relação é de 8,3 arrobas de boi gordo para comprar um bezerro.
Mais uma vez aplicando o conceito de relação de troca, para ajustar a baliza de preços, considerando uma arroba de boi gordo a R$260, temos:
– Baliza de baixo: R$ 1.872/ bezerro (7,2 x R$ 260)
– Média Histórica: R$ 2.158/ bezerro (8,3 x R$ 260)
– Baliza de cima: R$ 2.392/bezerro (9,2 x $260)
Mais uma vez, note que, discutir um preço de forma isolada não significa nada.
Veja como analisar os preços dessa forma, traz uma visão de relação entre os custos e a receita do negócio e, perceba que é possível fazer esse tipo de análise (relação de troca) para qualquer produto que entra e sai da fazenda, analisando a relação de troca, ajustando a baliza dos preços.
Para finalizar, de presente para você, seguem algumas relações que os “antigos” já diziam e que podem nos ajudar muito até hoje em dia.
1 bezerro bom = 8 @ de boi gordo
2 sacos de milho = 1 saco de soja
2 sacas de soja = 1 @ de boi gordo
1 boi gordo = 2,5 @ de boi gordo (essa faz tempo que não acontece)
Valor do arrendamento = 10 a 20% da arroba de boi gordo
Agora conta para gente, esse texto, fez sentido para você?
Tem mais alguma relação que você trabalha aí no dia a dia da fazenda?
Comenta aqui.