Produção de Silagem

Os 3 S da produção de silagem

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Rafael Amaral

Indicadores e a Importância do Gerenciamento na Produção de Silagem

A pecuária de corte e de leite utiliza diversos indicadores para tomada de decisões dentro da porteira. Entre eles, estão: ganho de peso, consumo de matéria seca, produção de leite, taxa de mortalidade e produtividade agronômica da cultura forrageira.

Esses indicadores são comuns e, de certa forma, os produtores têm (ou deveriam ter) essas informações na ponta da língua. Entretanto, no processo de produção de silagem, muitas informações são negligenciadas. Algumas etapas entram no modo automático, reduzindo a coleta e o uso desses dados. Como consequência, o gerenciamento se torna suscetível a falhas e perdas.

Uma maneira de organizar melhor esse processo é dividi-lo em 3 S’s: o S do Solo, o S do Silo e o S da Silagem.

Os 3 S’s da Produção de Silagem

Hoje, observa-se que muitas propriedades já fazem um bom gerenciamento nos S’s do Solo e da Silagem. Por exemplo, perguntas relacionadas ao Solo costumam ser facilmente respondidas pelo produtor:

  • Qual o espaçamento entre linhas utilizado no plantio?
  • Qual a produção por hectare da cultura?
  • Qual o híbrido utilizado?

Da mesma forma, questões sobre a Silagem também são bem conhecidas:

  • Quantos quilos de silagem são oferecidos por cabeça por dia?
  • Qual a inclusão de silagem na dieta?
  • Qual o teor de amido da silagem?

Porém, ao abordar questões relacionadas ao S do Silo, muitas dúvidas surgem. Perguntas como:

  • Qual a taxa de enchimento do silo?
  • Qual a proporção de peso de trator em relação à forragem que chega por hora no silo?
  • Qual o número do silo e sua capacidade de armazenamento?
  • Qual a temperatura da silagem?
  • Qual a taxa de avanço do silo?
  • Qual a perda de matéria seca por silo?
  • Qual o custo real da silagem utilizada?

Na maioria das vezes, essas perguntas não são respondidas!

O Elo Entre o Solo e a Silagem

O conceito dos 3 S’s visa elevar o nível de gerenciamento da silagem nas propriedades.

O S do Silo é o elo que conecta os outros dois. Normalmente, o S do Solo e o S da Silagem não interagem diretamente. A produção do volumoso ocorre em um momento diferente do seu fornecimento aos animais. Essa desconexão prejudica a compreensão do processo como um todo.

Imagine um capim colhido com excelente valor nutritivo e, ao mesmo tempo, animais com baixa aceitação da silagem. O problema está no S do Silo!

Se a umidade da forragem estiver elevada, bactérias do gênero Clostridium se proliferam, produzindo ácido butírico e compostos que reduzem o consumo. Para evitar isso, é necessário elevar o teor de matéria seca antes da ensilagem, por meio de pré-secagem ou adição de ingredientes sequestrantes de umidade.

Esse exemplo mostra que a gestão do S do Silo se inicia na colheita do alimento e se estende até a oferta da silagem aos animais.

O Silo Como um Ativo da Propriedade

Muitas propriedades mantêm registros detalhados de setores como:

  • Sala de ordenha (dados de produção de leite e mastite);
  • Bezerreiro (dados individuais e consumo de sucedâneo);
  • Confinamento (peso de entrada e saída, consumo médio e escore de coxo).

Mas quantas anotam dados detalhados sobre cada silo? A maioria não faz esse controle!

Os silos devem ser tratados como ativos estratégicos, assim como os animais da propriedade.

Imagine um silo de 10 metros de largura, 50 metros de comprimento e 2,5 metros de altura. Ele armazena cerca de 900 toneladas de silagem de milho.

A mudança de mentalidade acontece quando o produtor para de enxergar a silagem apenas como um custo por quilo e passa a considerar o investimento total armazenado no silo. Se um produtor investisse R$ 150.000,00 nesse volumoso e aplicasse o mesmo valor em um fundo bancário, ele verificaria o saldo semanalmente. Então, por que não acompanhar o valor armazenado nos silos com a mesma atenção?

Reduzindo Perdas na Produção de Silagem

A silagem é um processo que gera perdas de matéria seca. Com gestão eficiente, é possível reduzir essas perdas de 25% para apenas 10%.

Vamos a um exemplo prático:

Uma propriedade que confina 1.000 cabeças por ano e fornece 1 tonelada de silagem por animal em 100 dias necessita de 1.000 toneladas de silagem.

Se a produtividade da região é de 40 toneladas por hectare, muitos diriam que são necessários 25 hectares. Mas essa conta está errada!

Com perdas de 25%, muitos adicionariam esse percentual ao total, chegando a 1.250 toneladas ou 31,25 hectares. Mas, se ensilarmos 1.250 toneladas e perdermos 25%, sobrarão apenas 937,5 toneladas — menos do que o necessário.

O cálculo correto é:

1000 toneladas / (100% – 25%) = 1.333,33 toneladas ou 34 hectares.

Com um gerenciamento adequado, as perdas podem ser reduzidas para 10%. Nesse caso, seriam necessários 28 hectares, economizando 6 hectares.

Ao reduzir perdas de 240 toneladas, a propriedade poderia alimentar 216 animais a mais — um aumento de 21,6% no número de cabeças confinadas.

Conclusão

O conceito dos 3 S’s da silagem ajuda a elevar o nível de gestão da propriedade. Quanto maior a eficiência na produção de silagem, mais animais podem ser alimentados com a mesma área plantada.

Lembre-se: o gerenciamento adequado estabelece indicadores de desempenho e torna as decisões mais assertivas. Contra números, não há argumentos!

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