Formulando Suplementos para seca

Foto de Matheus Moretti

Matheus Moretti

Durante a seca, as plantas passam por um processo de senescência que altera significativamente sua composição química, resultando em um aumento na porcentagem de matéria seca (MS) e fibra (FDN e lignina), e uma redução no teor de proteína bruta (PB). Fazer uso de suplementos durante a seca é essencial, uma vez que as mudanças na composição do pasto afetam diretamente o desempenho do animal.

Ao consumir uma forragem com baixa quantidade de proteína, ocorre um impacto direto no funcionamento do rúmen, dado que as bactérias ruminais necessitam de uma quantidade mínima de proteína para realizar a digestão da fibra.

Na prática, é possível identificar que o rúmen não está funcionando bem a partir do escore das fezes dos animais. Fezes secas e/ou aneladas indicam o mal funcionamento do rúmen.

Sendo assim, durante a seca, a suplementação proteica torna-se fundamental. A suplementação tem como objetivo “corrigir” o ambiente ruminal, permitindo que as bactérias ruminais desempenhem suas funções (degradação da fibra) de forma eficaz. Com a suplementação adequada, é possível melhorar a digestibilidade da matéria seca, otimizar o consumo de forragem e, consequentemente, melhorar o ganho de peso dos animais.

Mas quanto de proteína devemos fornecer?

Essa é uma excelente pergunta. Para ajudar a responder, vamos analisar três gráficos que nos auxiliarão a concluir qual a quantidade de proteína devemos ter como meta quando estivermos formulando um suplemento.

Gráfico 1: Relação Entre Nitrogênio no Rúmen e Aproveitamento da Fibra

O Gráfico 1 relaciona a quantidade de fibra que pode ser aproveitada em função da quantidade de nitrogênio (N) presente no rúmen. Lembre-se de que a quantidade de N no rúmen é derivada do consumo de proteína, ok?

No gráfico, estão destacados três pontos importantes:

Ponto 1: Observamos um baixo aproveitamento da fração de fibra que poderia ser degradada no rúmen. Isso se deve à baixa atividade microbiana, causada pela baixa quantidade de N no rúmen. As bactérias ruminais não têm proteína suficiente para “trabalharem” de maneira eficaz na degradação da fibra.

Ponto 2: Com o fornecimento de N no rúmen, as bactérias começam a “trabalhar” melhor, elevando a degradação da fibra. Nesse ponto, a atividade microbiana aumenta significativamente, melhorando a digestão da forragem.

Ponto 3: É alcançado o platô, ou seja, o potencial máximo de degradação da fibra consumida foi atingido. Neste ponto, o fornecimento de proteína adicional de proteína não aumenta mais a degradação da fibra.

Gráfico 2: Relação Entre Consumo de MS e Quantidade de N no Rúmen

O Gráfico 2 nos mostra a relação entre o consumo de matéria seca (MS) e a quantidade de N no rúmen. Aqui, é importante destacar que o consumo de MS está fortemente relacionado à velocidade de degradação da fibra consumida, influenciando diretamente a taxa de passagem do alimento pelo rúmen. Ou seja, quando ocorre o aumento da degradação e passagem, “libera-se” espaço no rúmen e o animal “come mais”. Lembre-se que quanto maior o consumo, maior será o ganho médio diário (GMD).

Assim como no Gráfico 1, no Gráfico 2 estão destacados três pontos:

Ponto 1: O consumo está baixo devido à atividade microbiana limitada e à baixa taxa de degradação da fibra, resultando em um “rúmen cheio”.

Ponto 2: Com o fornecimento de N, até o nível de digestão máxima da fibra do Gráfico 1 (8 mg/dL), vemos um aumento no consumo, embora ainda não atinja o nível máximo.

Ponto 3: O consumo continua a aumentar até níveis de 15 mg/dL. Isso ocorre provavelmente porque o fornecimento adicional de N fornece mais substrato para as bactérias, aumentando a população microbiana e, consequentemente, a velocidade de degradação da fibra. Isso acelera a taxa de passagem, libera espaço no rúmen e aumenta o consumo de MS.

Gráfico 3: Relação Entre Nitrogênio no Rúmen e Proteína Bruta da Dieta

O Gráfico 3 nos mostra a relação entre a quantidade de N no rúmen e a proteína bruta (PB) da dieta do animal. De acordo com o gráfico, a quantidade mínima de PB que o rúmen precisa para não ter sua atividade comprometida é de 8% PB. Para otimizar o consumo de MS, a dieta deveria conter aproximadamente 12% PB.

Formulação para a Seca

Dada a importância da proteína para a eficiência da fermentação ruminal, a formulação adequada de proteinados é essencial para maximizar a produtividade dos bovinos durante o período seco.

Calculando a Quantidade de Proteína Necessária

Com base nas informações sobre a quantidade de nitrogênio (N) e proteína bruta (PB) da dieta, podemos calcular a quantidade ideal de PB em um proteinado para alcançar níveis ruminais próximos a 8% PB.

Considerando que o consumo potencial de pasto durante a seca é limitado pela porcentagem de fibra em detergente neutro (FDN) e é aproximadamente 1,6 a 1,7% do peso vivo (PV) do animal, e o consumo de proteinado é de 0,1% do PV, podemos calcular a quantidade necessária de PB no suplemento.

Utilizando uma regra de três, sabendo que o pasto terá aproximadamente de 5 a  6% de PB, fazendo as contas, um proteinado precisa conter entre 40% a 50% de PB para atingir a meta de 8% de PB no rúmen.

Por exemplo: Se um boi de 400 kg consome 0,1% PV em suplemento (400 × 0,001 = 400 g), e o pasto tem 5% de PB, o suplemento precisa compensar esse déficit. Para atingir 8% PB na dieta total, o suplemento deve conter cerca de 45% a 50% PB, como já discutido.

Formulando na Prática

Agora que já sabemos a quantidade de PB que precisamos ter como meta para nossa formulação, o próximo passo é definir a relação entre o nitrogênio (N) fornecido por ureia e o N fornecido por farelos proteicos. Essa etapa é fundamental para otimizar a eficiência da fermentação ruminal e o crescimento microbiano.

Isto porque, a ureia, quando quebrada no rúmen, fornece apenas nitrogênio (N), enquanto os farelos proteicos liberam N e compostos carbônicos. Estes compostos carbônicos são fundamentais para o crescimento e a atividade dos microrganismos ruminais.

Analisando os dados da Tabela, observamos que a relação ideal entre o N oriundo da ureia e o N de proteínas verdadeiras é de 70% ureia e 30% farelo. Adotar a relação 70/30 proporciona melhor taxa de Degradação da Fibra e melhor Fermentação Ruminal, contribuindo para uma produção energética mais eficiente e melhor Crescimento Microbiano.

Resumindo

Ao formular um proteinado (0,1% PV) para a seca, é fundamental garantir que ele contenha entre 40% e 50% de PB. Com uma relação de 70/30, a formulação deve incluir entre 10% e 12,5% de ureia.

Mas e se eu não tiver pasto, devo suplementar com proteinado, sendo que o consumo do animal vai aumentar?

A resposta é sim, mas esta explicação fica para um outro texto

Você quer aprender a montar suas próprias fórmulas e ter mais autonomia para planejar e ajustar a suplementação dos seus animais?

Se a resposta for sim, o Formulando na Prática é o próximo passo:

Um curso direto ao ponto, com um método simples e aplicável pra você formular suplementos sem complicação e com confiança.

👉 Clique aqui e conheça o Formulando na Prática

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostou desse conteúdo?

Compartilhe com seus amigos