Tempo de Diferimento

Quando e por quanto tempo o pasto pode ficar diferido?*

Foto de Manoel Rozalino

Manoel Rozalino

O período de diferimento é o tempo em que a pastagem fica sem animais, acumulando forragem para ser pastejada durante a época de seca. Vários fatores devem ser levados em consideração para o controle da duração do período de diferimento e, dentre eles, destacam-se:

  • O clima da região.
  • A espécie de planta forrageira utilizada.
  • A fertilidade do solo.
  • A possibilidade de uso de adubos.
  • A altura do pasto no início do período de diferimento.
  • O objetivo do pecuarista.
  • O uso de suplementos alimentares.

A importância do controle do período de diferimento reside no fato de que essa ação de manejo determina as características do pasto diferido e, consequentemente, tem efeito sobre o desempenho dos animais que consomem a forragem diferida (Tabela 1).

Tabela 1 – Efeitos da duração do período de diferimento sobre o pasto e o animal

Diferimento CurtoDiferimento Longo
Maior número de broto vegetativoMaior número de broto reprodutivo e morto
Menor massa de forragemMaior massa de forragem
Maior percentual de folha verdeMaior percentual de colmo e material morto
Plantas mais eretasOcorrência de tombamento das plantas
Forragem de melhor valor nutritivoForragem de pior valor nutritivo
Menor perda de forragem durante o pastejoMaior perda de forragem durante o pastejo
Melhoria na eficiência de pastejoRedução na eficiência de pastejo
Uso do pasto por mais tempo nas águasSubutilização do pasto na época das águas
Desempenho animal satisfatórioLimitação no desempenho animal
Boa rebrotação na primaveraAtraso na rebrotação na primavera

As principais desvantagens da utilização de períodos de diferimento longos são o baixo valor nutritivo da forragem e a pior morfologia do pasto, comprometendo a eficiência de pastejo e o desempenho animal, bem como limitando o aparecimento de novos brotos na primavera subsequente. Por outro lado, períodos de diferimentos demasiadamente curtos resultam em baixa produção de forragem, que pode ser insuficiente para alimentação dos animais, mas com características qualitativas melhoradas. Assim, deve-se trabalhar com períodos de diferimento intermediários, para obtenção de forragem diferida em quantidade suficiente e com satisfatório valor nutritivo e qualidade durante a época seca do ano.

As recomendações de épocas de início e fim do período de diferimento não devem ser generalizadas, uma vez que cada região e propriedade possuem clima, solo e capins específicos. Ademais, a duração do período de diferimento deve atender também aos objetivos do pecuarista (Tabela 2).

Tabela 2 – Alguns fatores que devem ser considerados para a escolha da duração do período de diferimento.

Diferimento CurtoDiferimento Longo
Uso de adubo nitrogenadoAdubação não é realizada
Solo de alta fertilidadeSolo de baixa fertilidade
Pasto alto no início do diferimentoPasto muito baixo no início do diferimento
Alimentação de animais exigentesPasto usado por animais menos exigentes
Forrageira com alta produção de forragemForrageira com baixa produção de forragem
Uso de suplemento concentradoUso somente de sal mineral
Período de seca curtoPeríodo de seca longo

O clima da região em que a pastagem a ser diferida se encontra é muito relevante, pois influencia o crescimento do capim e, consequentemente, a produção de forragem da pastagem. Dessa maneira, é recomendável que as médias históricas dos principais indicadores meteorológicos da região em que se trabalha sejam conhecidas, tais como temperaturas médias, máximas e mínimas mensais, umidade relativa do ar e precipitação pluvial (quantidade de chuvas) média mensal. Além disso, também é importante o registro de anomalias climáticas, como veranicos e geadas.

Alguns pesquisadores recomendam que o início do período de diferimento deve ocorrer em, no mínimo, 30 a 40 dias antes da vigência do fator climático mais limitante ao crescimento do capim (Martha Jr et al., 2003). Nesse sentido, é importante conhecer os valores de temperatura e de disponibilidade de água no solo que não limitam o crescimento dos capins.

Os valores de temperatura mínima em que não há crescimento dos capins são chamados de temperatura base inferior. Na região sudeste do Brasil, foi verificado que a temperatura média mensal de 17,0ºC corresponde à temperatura mínima média mensal de 11,0ºC, definida como limitante à produção de forragem paras os capins braquiarão e tanzânia (Pezzopane et al., 2012).

Com relação à disponibilidade de água, pode-se considerar um período como sendo de seca, com limitação de água para o crescimento do capim, quando a deficiência hídrica no solo for maior ou igual a 5 mm (Pezzopane et al., 2012).

Com base nessas informações e conhecendo-se a distribuição das chuvas e da temperatura ao longo dos meses do ano em uma determinada localidade, é possível definir o mês em que o período de diferimento deve ser iniciado, respeitando-se a orientação de que o início do período de diferimento deve ocorrer, ao menos, com cerca de 30 a 40 dias antes da vigência do fator climático mais limitante ao capim (Martha Jr et al., 2003).

Referências bibliográficas:

MARTHA JÚNIOR, G.B.; BARIONE, L.G.; VILELA, L.; BARCELLOS, A.O. Uso de pastagem diferida no Cerrado. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2003. (Embrapa Cerrados. Documentos, 102).

PEZZOPANE, J.R.M.; SANTOS, P.M.; BETTIOL, G.M.; BOSI, C.; PETINARI, I.B. Zoneamento de aptidão climática para os capins marandu e tanzânia na região sudeste do Brasil. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2012b. (Embrapa Pecuária Sudeste. Documentos, 108).

*Texto extraído do livro “NA SECA O CAPIM PODE SECAR, MAS O BOI NÃO!”, que você pode ser encontrado na Livraria Bom de Pasto (www.bomdepasto.com)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostou desse conteúdo?

Compartilhe com seus amigos