Até aqui, falamos muito sobre a importância de conhecer sua fazenda em detalhes, saber exatamente onde ela está em termos de produtividade e desempenho. Agora vamos começar a falar como ganhar dinheiro com pecuária ao aplicar técnicas eficientes de manejo.
Isso significa ir além da observação diária e ter a capacidade de descrever a fazenda em números: lotação, produção por hectare, GMD (ganho médio diário) e outros indicadores cruciais para tomar decisões embasadas.
Sabemos que, com margens cada vez mais apertadas na pecuária de corte, a intensificação se torna uma estratégia fundamental.
Não se trata apenas de aumentar a produção, mas de fazer isso de forma eficiente, com planejamento, metas claras e um olhar atento tanto para o curto quanto para o médio prazo.
Ter um norte bem definido e ações concretas para alcançar esse objetivo é o que faz a diferença.
Já discutimos também a importância de alinhar toda a equipe no processo e de manter o monitoramento constante das ações e resultados. Esse acompanhamento é essencial, porque permite fazer ajustes ao longo do caminho, garantindo que as estratégias sejam sempre otimizadas.
Agora que entendemos esses pontos, é hora de começarmos a falar de ações práticas.
No texto de hoje, vamos nos concentrar em uma das áreas mais importantes para aumentar a produtividade dentro da porteira: as tecnologias de processo. Essas tecnologias estão diretamente ligadas ao conhecimento e à tomada de decisão eficiente, além de fazerem com que as atividades do dia a dia da fazenda sejam realizadas da melhor forma possível. Ao aplicar essas práticas, o produtor consegue agregar valor ao negócio, independente do cenário econômico ou do momento do ciclo pecuário.
Tecnologias de Processo
Mas afinal, o que são tecnologias de processo?
Podemos entender essas tecnologias como o conjunto de práticas e ferramentas que envolvem o conhecimento aplicado, a tomada de decisão correta, e o fazer bem-feito no dia a dia da fazenda.
Elas se consolidam em ações planejadas e executadas com precisão, tendo como base o conhecimento.
Quando falamos em tecnologias de processo, estamos falando de como gerenciar e otimizar os recursos disponíveis para obter o melhor resultado possível.
Essas tecnologias abrangem diversos aspectos da operação, desde o manejo do pasto, passando pela produção de silagem, até a organização e o manejo do curral. São práticas que fazem sentido independentemente das condições do mercado — seja o boi barato ou caro, seja o custo dos insumos alto ou baixo. Elas sempre agregam valor dentro da porteira, pois otimizam a eficiência da produção.
O segredo dessas tecnologias é que elas se sustentam em conhecimento e técnica, e aplicá-las corretamente resulta em mais produtividade e maior margem de lucro.
A grande vantagem das tecnologias de processo é que elas criam uma base sólida para a fazenda. Elas garantem que, ao adotar novas práticas ou investir em insumos, você estará preparado para potencializar os ganhos.
Afinal, mesmo com todas as inovações disponíveis, se os processos da fazenda não estiverem organizados e bem estruturados, os resultados não atingirão seu potencial máximo.
Na sequência, te apresento apenas dois de vários exemplos práticos de tecnologias de processo que podem fazer uma diferença significativa na rotina da fazenda.
Exemplo 1: Manejo do pastejo
O manejo da pastagem é um dos pilares das tecnologias de processo. Quando bem-conduzido, ele tem um impacto direto na eficiência de colheita da forragem e no consumo de pasto pelos animais.
Ao otimizar a utilização das pastagens, você pode aumentar a lotação da fazenda e garantir que os animais tenham acesso a forragem de qualidade, resultando em maior ganho de peso.
Um bom ponto de partida no manejo de pastagem é controlar a altura de entrada e saída dos animais e ajustar corretamente a taxa de lotação.
Respeitar a altura de entrada garante uma boa estrutura do pasto, enquanto seguir a altura de saída contribui para uma rápida recuperação do pasto.
Uma dica prática: entre com os animais quando o pasto atingir X altura e retire quando ele estiver em 0,5X. Fazer isso já é um excelente começo para um manejo eficiente.
Para te ajudar a se conscientizar do potencial do bom manejo, de quanto dinheiro pode estar ficando na mesa, exercite comigo alguns números.
Considere uma área que produz 10.000 kg de matéria seca (MS) por hectare ao longo do ano, e que cada animal consome cerca de 6 kg de MS por dia.
Se a eficiência de colheita for de 30%, estamos “colhendo” 3.000 kg MS por hectare por ano, o que daria para alimentar 1,37 animais por hectare. Com uma eficiência de colheita de 70%, a quantidade “colhida” sobe para 7.000 kg MS por hectare por ano, permitindo “tratar” de 3,20 animais por hectare.
Além disso, essa eficiência impacta diretamente o ganho médio diário (GMD) dos animais dado seu impacto no consumo e na qualidade do que é consumido.
Na eficiência de 30%, apenas para ilustrar, assumindo um GMD de 0,400 kg/dia, ao manejar bem, podemos aumentar esse ganho para 0,500 kg/dia, na eficiência de 70%.
Ao longo de um ano, isso resulta em uma produção de peso total de 200 kg por hectare na eficiência de 30%, contra 583 kg por hectare na eficiência de 70%.
Perceba que manejar bem pode, portanto, mais que dobrar a lotação e quase triplicar a produção.
Agora, você pode estar pensando: “Ah, mas eu manejo bem meus pastos!”
Será mesmo?
Hoje, mais de 60% das áreas de pastagem no Brasil estão em algum estágio de degradação, resultado direto de um manejo inadequado.
Te pergunto: Se você olhar para seu pasto agora, de 0 a 10, qual nota daria para o seu manejo?
Para finalizar essa parte, além do manejo, uma boa prática complementar é realizar uma análise de solo para identificar possíveis limitações, como a acidez do solo, que pode ser corrigida com calagem.
Mesmo que o uso de adubos seja considerado uma tecnologia de insumo, ele também serve como uma estratégia essencial para manter a qualidade do solo e garantir seu potencial produtivo a longo prazo.
Exemplo 2: Produção de Silagem
A produção de silagem é outra prática essencial no manejo da pecuária de corte, especialmente para sistemas que utilizam confinamento ou suplementação volumosa em períodos de escassez de pastagem.
Um bom processo de ensilagem pode garantir menores perdas durante o armazenamento e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade nutricional do material fornecido aos animais, refletindo diretamente nos custos de produção.
Alguns exemplos de boas práticas de ensilagem seriam:
– Colheita no momento ideal: O corte do material deve ser feito no estágio correto de maturação da planta, para garantir o máximo de nutrientes e uma fermentação eficiente.
– Compactação adequada: A compactação é crucial para remover o ar e garantir a correta fermentação anaeróbica, o que ajuda a reduzir perdas e evitar a deterioração do material.
– Vedação eficiente: Manter o silo bem vedado é fundamental para proteger a silagem do contato com o ar e da entrada de água, garantindo a preservação da qualidade.
Da mesma forma que fizemos para o manejo do pasto, vamos ver, com números práticos, o impacto que um bom processo de ensilagem tem na capacidade de alimentar os animais.
Suponha que você tenha uma área que produza 40 toneladas de material natural por hectare, com um teor de 35% de matéria seca (MS). Isso resulta em 14 toneladas de MS por hectare.
Agora, considere que um animal confinado consome cerca de 3 kg de MS por dia, durante um período de 100 dias. Com boas práticas, você pode reduzir as perdas de silagem para 10%, mas, com um processo inadequado, essas perdas podem chegar a 20%.
Se considerarmos uma perda de 10%, restariam 12,6 toneladas de MS disponíveis. Isso seria suficiente para alimentar 42 animais por hectare durante o período de confinamento. Já com uma perda de 20%, restariam 11,2 toneladas de MS, o que seria suficiente para alimentar 37 animais.
Esses números mostram claramente o impacto direto de um processo de ensilagem eficiente. Com uma diferença de 5 animais a mais por hectare a mais tratados por hectare. Note como a qualidade do processo pode resultar em uma diferença significativa no número de animais confinados e no custo total de alimentação.
Além disso, ao melhorar o processo de ensilagem, você também garante que os animais estão recebendo um material mais nutritivo, o que se reflete em melhores ganhos de peso e, consequentemente, em uma maior produção de arrobas (ou menor tempo de cocho) no final do ciclo.
Por fim…
A essa altura do texto você já percebeu o poder das tecnologias de processo e como elas podem transformar os resultados dentro da sua fazenda.
Desde o manejo eficiente das pastagens até o cuidado na produção de silagem, vimos que fazer as coisas bem-feitas é o primeiro passo para alcançar níveis mais elevados de produtividade e rentabilidade.
Note que essas práticas (tecnologias de processos) são o arroz com feijão da pecuária.
São a base, o essencial!
Você pode dominar o mercado, o ciclo pecuário pode mudar, os preços dos insumos podem variar, mas, se o manejo e os processos dentro da fazenda não forem otimizados, todo o resto é apenas esforço desperdiçado.
Não importa se estamos falando de boas ou más condições de mercado: um processo bem feito sempre agrega valor.
Agora, vamos ser francos.
Você já está aplicando essas tecnologias de processo?
Você olha para o seu pasto e sente que ele está sendo manejado no limite do seu potencial?
Se sua silagem está sendo feita, será que as perdas estão sob controle?
Hoje, a realidade é que mais de 60% das pastagens no Brasil estão em algum estágio de degradação, reflexo de práticas mal executadas.
A pergunta que fica é: você está realmente tirando o máximo da sua terra?
Boraaa Turma!
No próximo texto, vamos além. Se o arroz com feijão é essencial, as tecnologias de insumos são o tempero que pode potencializar ainda mais a sua produção. Suplementação estratégica e Adubação são dois ótimos exemplos que, quando aplicados sobre processos bem estruturados, podem fazer a sua produção decolar.
Seguimos…