Mesmo com o desafio da margem na pecuária, ser um pecuarista de sucesso, é possível!
Porém, como qualquer outra atividade, a fazenda precisa ser encarada como um negócio sendo “tocada” como empresa.
Isso significa que, decisões emocionais são diferentes de ter paixão por pecuária. Ao longo desse texto falaremos mais disso.
Dados da Athenagro nos revelam que, ao longo das décadas, a margem na venda de uma arroba veio caindo.
Com os custos de produção aumentando, vender uma arroba deixa menos dinheiro no bolso do que já deixou um dia.
Para ilustrar, veja um exemplo prático:
Se no passado, a margem de lucro sobre a venda de 1 arroba era de 50%, considerando o preço de uma arroba a R$ 250,00, o produtor teria um lucro de R$ 125,00 por arroba. Se a fazenda produzisse 5 arrobas por hectare, o lucro seria de R$ 625,00/ha.
Considerando agora que a margem, nos dias atuais, é de aproximadamente 15%, com o mesmo valor da arroba sendo vendida a R$ 250,00, o lucro desse mesmo produtor seria de apenas R$ 37,50 por arroba ou R$ 187,50 por hectare. Uma queda de 70% no dinheiro que “sobra no bolso”.
Essa simples conta deixa claro que, para ganhar dinheiro na pecuária de corte, precisamos produzir mais arrobas por hectare, garantindo assim a rentabilidade da operação.
Com a margem de lucro mais apertada, aumentar a produção por hectare é fundamental para recuperar a lucratividade da atividade.
No exemplo, para equivaler ao lucro do passado, a fazenda precisaria aumentar a produção de 5 arrobas para 16,7 arrobas por hectare.
Esse exemplo evidencia a necessidade de produzir mais por hectare, certo?!
Mas, antes de apresentar e discutir caminhos e estratégias de intensificação, é fundamental entender onde sua fazenda está hoje.
Afinal, se até o GPS não consegue te levar ao seu destino sem saber sua localização atual, como produzir mais na pecuário, planejar o futuro, sem entender e conhecer o presente.
Conhecer a fazenda, quanto está sendo produzido por hectare, qual é a taxa de lotação, e com isso, entender onde estão os gargalos é fundamental para discutir as estratégias que serão adotadas e criar um plano de ação.
Sabe aquela resposta clássica quando perguntamos se alguma coisa vale a pena:
“Depende”!
Pois é, sabendo onde a fazenda está e onde é preciso chegar, essa resposta não fará mais parte do seu vocabulário.
Ao em vez de responder depende você saberá o contexto que faz (ou não faz) sentido ao uso de determinadas tecnologias, discutindo e analisando quando sua adoção se adequa ao projeto.
No processo de produzir mais, você ainda precisa entender que, existem as tecnologias de processos e tecnologias de insumos.
A Primeira sempre fará sentido dentro da porteira, sendo fundamentais e obrigatórias para o projeto, independente dos valores do mercado.
Já a segunda, por envolver desembolso que são pagos com aumentos de produção, precisamos analisá-las considerando os valores (preços) e o seu contexto no cenário produtivo da fazenda, respondendo os porquês da sua adoção, justificando assim sua adoção.
Como alinhar esse conhecimento do presente com a intensificação do futuro, está é a pergunta.
A resposta: Saber fazer uso das tecnologias, traçar um bom plano de ação de como implementá-las, me parece ser a chave do sucesso para ganhar dinheiro com pecuária de corte.
Onde Estou: O Começo de Tudo!
Antes de qualquer tomada de decisão sobre intensificação ou adoção de novas tecnologias, é fundamental que o pecuarista tenha um diagnóstico preciso sobre o momento atual da fazenda.
Isso envolve saber com clareza o ponto de partida, tanto em termos de produção quanto de gestão financeira.
A analogia com um GPS é bastante clara: assim como você precisa saber onde está antes de planejar qualquer rota, na pecuária é impossível definir uma estratégia de intensificação sem compreender onde sua fazenda está em termos de números e eficiência.
Mas como fazer isso na prática?
Conhecer os indicadores de produção é o primeiro passo para entender o desempenho da fazenda e identificar oportunidades de melhoria.
Esses indicadores fornecem uma visão clara sobre a eficiência produtiva, o que permite tomar decisões embasadas.
Não complique, comece pelo básico bem feito!
Aqui estão alguns indicadores essenciais que permitirão entender onde a fazenda está:
1) Taxa de Lotação
A taxa de lotação mede o número de unidades animais (UA) por hectare. Cada unidade animal equivale a um animal adulto de 450 kg. Para calcular essa taxa, você precisa seguir estes passos:
Número total de animais na fazenda: Digamos que a fazenda tenha 150 cabeças de gado.
Área total de pastagem disponível: Suponha que a área total de pastagem seja de 100 hectares.
A fórmula para calcular a taxa de lotação é:
Taxa de Lotação = Núm. Total de UAs / Área em hectares
Se cada animal tiver, em média, 1 unidade animal (considerando o peso de 450 kg), a fazenda teria uma taxa de lotação de:
- Taxa de Lotação = ( 150 UA / 100 ha)
- Taxa de Lotação = 1,5 UA/ha
Este valor indica que, para cada hectare de pasto, existe 1,5 unidades animais.
Pode parecer simples, mas conhecer o número exato de animais que você tem é fundamental. Não ache, conheça!
Você pode evoluir nessa análise, tendo a informação: por categoria e por faixas de peso. Também poderemos utilizar essas informações por lotes e áreas da fazenda (piquetes) no momento de falar em manejo do pastejo.
Comparar essa taxa de lotação com padrões regionais ou objetivos da fazenda ajuda a identificar se há espaço para intensificação ou se a lotação está acima da capacidade de suporte da pastagem.
2) Produção de Arrobas por Hectare
A produção de arrobas por hectare é um indicador direto da produtividade da fazenda. Para calcular, você precisa saber quantas arrobas foram produzidas ao longo de um ano em relação à área de pastagem disponível.
Vários projetos gostam de considerar os 12 meses de 1 ano no período de julho a junho, dado os momentos produtivos e épocas do ano. Cabe você entender o que faz mais sentido para seu projeto e adotar como padrão.
A fórmula é:
Produção de Arrobas por hectare = Total de @s Produzidas / Área em hectares
Total de @s Produzidas = (Estoque @s final – inicial) – (@s compradas) + (@s vendidas)
Por exemplo, se a fazenda produziu 500 arrobas em um ano e possui 100 hectares de pastagem, a produção de arrobas por hectare seria de 5 @/ha/ano (500@ / 100ha).
Esse valor é importante para avaliar a eficiência produtiva atual, onde a fazenda está e identificar oportunidades de intensificação.
Se a produção média por hectare é menor que a de fazendas semelhantes na região, isso pode indicar uma oportunidade de melhoria no manejo, alimentação ou genética.
3) Ganho Médio Diário (GMD)
Para te ajudar a entender o valor da produção, conhecer o ganho médio diário (GMD), é fundamental para planejar e pensar nas tecnologias que serão adotadas.
O GMD nada mais é do que o quanto o animal está ganhando de peso por dia, em média, durante o período em que ele está na fazenda,
Esse indicador ajuda a avaliar a eficiência e o desempenho do rebanho.
Para calcular, você precisará:
- Peso inicial do animal
- Peso final do animal
- Período em dias
A fórmula para calcular o GMD é:
GMD = (Peso final – Peso inicial) / Número de Dias
Se um animal entra na fazenda com 210 kg e atinge 420 kg após 365 dias, o GMD será:
GMD = (420 – 210) / 365 = 0,575 kg/dia
Esse valor é fundamental para entender se o rebanho está crescendo de forma eficiente, fase a fase.
A meta é sempre buscar um GMD que encaixe na necessidade de produção proposta para a fazenda, lembrando que a produção de @/ha/ano será a resultante da lotação proposta multiplicado pelo GMD por animal.
O Desafio na próxima etapa futura (planejamento) será equilibrar o desembolso cabeça/mês com o GMD meta.
Conhecer o GMD por época do ano é fundamental, pois o desempenho dos animais varia conforme as condições climáticas e a disponibilidade de pastagem.
É recomendável calcular o GMD separadamente para as diferentes estações:
Verão (Águas): Geralmente, essa é a estação em que os animais têm maior acesso a pastagem de alta qualidade, resultando em GMD mais elevados.
Outono (Transição Águas-Seca): A qualidade e quantidade de pastagem começam a diminuir, o que reflete na redução do GMD.
Inverno (Seca): O GMD tende a cair significativamente devido à menor oferta de pasto e à qualidade inferior da forragem. Nesse período, é essencial considerar estratégias como suplementação alimentar para minimizar perdas.
Monitorar o GMD em cada estação ajuda a identificar gargalos específicos em inerente a época, permitindo que o pecuarista adote medidas preventivas ou estratégicas de acordo com o objetivo do projeto.
4. Desfrute e Giro de Estoque
Outro indicador relevante para entender onde sua fazenda está é o desfrute.
Este valor nos mostra o percentual de animais que são abatidos em relação ao estoque total do rebanho.
Ele é fundamental para avaliar a eficiência produção e o giro do capital investido.
A fórmula para calcular o desfrute é:
Desfrute = Número de animais abatidos / Número total de animais
Por exemplo, se uma fazenda tem 200 animais no total e vende/abate 50 deles em um ano, o desfrute seria de:
Desfrute = 50/200 = 25%
Um desfrute maior indica que a fazenda está conseguindo girar mais rapidamente seu estoque de animais, transformando-os em receita mais frequentemente.
Isso está diretamente ligado à capacidade de reposição e intensificação do manejo, já que uma fazenda que consegue terminar os animais mais rapidamente (reduzindo o tempo médio para abate) aumenta o número de ciclos produtivos por ano.
O giro de estoque também pode ser visto como uma métrica complementar ao desfrute.
Ele mostra quantas vezes o rebanho é renovado ou trocado em um determinado período (normalmente considera-se 12 meses).
Quanto maior o giro, mais rapidamente os animais estão sendo vendidos e a fazenda consegue gerar novas receitas.
Esses indicadores ajudam o pecuarista a avaliar a eficiência do sistema de produção como um todo.
Se o desfrute ou o giro de estoque são baixos, isso pode indicar que há oportunidades para melhorar o manejo e aumentar a rotatividade de animais, maximizando o uso das áreas de pastagem e aumentando a produção por hectare.
A Importância da Coleta e Monitoramento Contínuo
Esses indicadores de produção são como o “painel de controle” da fazenda.
Para tomar decisões informadas, a coleta e o monitoramento contínuo desses dados são essenciais.
Isso pode ser feito de forma manual ou, de maneira mais eficaz, com o auxílio de ferramentas tecnológicas como softwares de gestão agropecuária, que permitem o acompanhamento em tempo real, gerando relatórios automáticos de desempenho.
Manter esses dados atualizados é o primeiro passo para entender onde a fazenda está e como ela pode evoluir.
A partir dessa avaliação, o pecuarista poderá traçar um plano de ação para intensificar a produção e melhorar a lucratividade de maneira sustentável.
No próximo texto, vamos seguir falando da Intensificação Como Caminho para o Futuro, mostrando como o aumento da produtividade por hectare é a chave para contornar as margens apertadas e aumentar o lucro na pecuária de corte.
Como tarefa, pare e calcule os indicadores que falamos. Entenda onde a fazenda está para juntos, a partir dos próximos textos, construirmos o caminho para onde você precisa chegar para ganhar dinheiro com pecuária de corte