Viabilidade da suplementacao

2 Cálculos Rápidos para Avaliar a Viabilidade de uma Estratégia na Pecuária

Foto de Matheus Moretti

Matheus Moretti

Frequentemente quando posto no Instagram algum dado mostrando o resultado esperado para uma determinada estratégia de suplementação, recebemos várias perguntas sobre a viabilidade da estratégia pecuária, se a conta fecha ou não ou se vale a pena adotar aquele resultado apresentado.

Fora isso, é comum recebermos perguntas do tipo:

  • O que é melhor: macho ou fêmea?
  • Vale a pena castrar os animais?
  • Qual insumo/ estratégia é melhor: A ou B?

Normalmente não fazemos posts mostrando um resultado econômico dado que existem diferentes realidades/ possibilidades em nosso País. Coprodutos regionais, preço da reposição vs. venda, comprar suplemento pronto vs. produzir na fazenda, usar núcleo, núcleo com ureia ou concentrado proteico, são algumas das variáveis que afetam significativamente a análise econômica de um conjunto de dados.

Entendo que estes questionamentos nascem da insegurança em decidir qual caminho seguir para aumentar os ganhos com a atividade. Ou ainda, qual caminho a seguir para fugir do prejuízo. Com a complexidade dos fatores envolvidos, desde os custos dos insumos até as flutuações do mercado, é totalmente compreensível que muitos se sintam sobrecarregados e hesitantes.

O primeiro ponto que você precisa ter em mente é: você precisa entender a lógica por trás de uma tecnologia, saber onde ela se encaixa e qual o resultado esperado. Uma vez que é conhecido o resultado esperado, temos de forma direta a receita obtida com a tecnologia (ex: venda da GMD obtido) e com isso podemos fazer conta e entender a viabilidade ou não da adoção da estratégia em questão.

Embora possa parecer complicado, realizar alguns cálculos simples pode ser a chave para analisar rapidamente a viabilidade de qualquer estratégia proposta.

Imagine ter a capacidade de avaliar em poucos minutos a viabilidade de adotar uma nova estratégia de suplementação no seu rebanho. Esses cálculos não precisam ser complexos para oferecer insights valiosos. Ao dominar algumas fórmulas básicas e compreender os números por trás das decisões, você ganha a confiança para avaliar oportunidades com precisão e agilidade.

A seguir, te apresento duas contas simples que uso diariamente em várias situações do dia a dia. A primeira é minha preferida.

1)  Ganho para pagar o investimento

Para avaliar adoção de uma nova estratégia, é essencial calcular o ganho necessário para cobrir o investimento de sua adoção.

Esse cálculo revela quanto a estratégia precisa gerar em termos de receita adicional (ex: GMD adicional; quantidade de bezerros desmamados a mais) para se tornar financeiramente viável.

Para calcular, considere o valor adicional gasto, que pode incluir despesas com insumos, tecnologia ou infraestrutura. Em seguida, estime o aumento esperado na produção ou eficiência que a estratégia proporcionará. Com base nesses dados, você pode calcular o retorno financeiro necessário para compensar o custo do investimento.

Na prática:

Para calcular de forma simples quanto ganho de peso é necessário para cobrir o investimento em uma nova estratégia, use a seguinte lógica:

  • Calcule o valor da venda de 1 kg de peso vivo
  • Considere o custo adicional da adoção da tecnologia
  • Calcule o GMD adicional necessário

Suponha que o preço da arroba R$ 200,00. Assumindo que 1 arroba equivale a 30 kg (RC=50%), o valor de 1 kg de peso vivo é R$ 6,67. Agora, considere o custo da adicional da adoção da tecnologia, por exemplo R$ 1,00.

Para saber quanto peso extra é necessário para cobrir esse custo, use a regra de três:

GMD adicional necessário = Desembolso adicional / valor do kg de peso vivo

GMD adicional necessário = R$ 1,00 / R$ 6,67

GMD adicional necessário = 0,150 kg/dia

Isso significa que você precisará de um ganho adicional de 0,150 kg de peso vivo para cobrir o investimento de R$ 1,00/dia.

Compare esse valor com o ganho adicional esperado e tenha o risco da adoção da estratégia. Quanto maior a diferença entre o valor necessário para cobrir o investimento e o resultado esperado, menor será o risco associado à adoção da nova tecnologia.

Cuide para que o ganho de peso adicional necessário para cobrir o investimento seja realista e atingível, minimizando assim os riscos.

2)  Análise de custo-benefício

A análise custo-benefício é outra análise para avaliar a viabilidade de uma nova estratégia, ajudando a determinar se o retorno financeiro justifica o investimento realizado.

Para avaliar de forma simples o custo-benefício, calcule o retorno financeiro esperado e compare-o com o custo da adoção da estratégia.

A fórmula básica é:

  • Receita obtida/ Custo da adoção

Onde:

  • Receita obtida = Ganho adicional esperado

Essa fórmula permite que você calcule o valor financeiro que é gerado para cada real investido na estratégia.

Para entender melhor, vamos a um exemplo prático:

Suponha que você está considerando a adoção de uma nova estratégia de suplementação que custa R$ 1,20. Com base nessa estratégia, você espera um aumento de produção de 0,300 kg/dia.

Se o preço de venda de 1 kg é R$ 6,67 (valor da @ = R$200 e rend. Carcaça 50%), a receita adicional esperada é:

  • Receita obtida = Aumento de produção × Preço por kg
  • Receita obtida = 0,300 kg/dia x R$ 6,67/kg
  • Receita obtida = 2,00  

Agora, aplique a fórmula:  

  • Custo-Benefício = Receita obtida / Custo adicional da adoção
  • Custo-Benefício = R$ 2,00 / R$ 1,20
  • Custo-Benefício = 1,67  

Esse resultado indica que para cada 1 real investido, você está gerando R$ 1,67 de receita adicional. Em outras palavras, a cada R$ 1,00 investido na estratégia, você obterá um retorno de R$ 1,67.  

Anulando o óbvio, cabe dizer que, quando o índice é superior a 1,00, a estratégia é financeiramente vantajosa, pois os benefícios superam os custos. Se o índice for menor que 1,00, a estratégia pode não justificar o investimento, tornando-se essencial avaliar outras opções ou ajustes.

Note ainda que quando mais próximo a 1, maior o risco da adoção e menor o retorno econômico.

Por fim…

Não existe receita pronta quando falamos de estratégias na pecuária de corte.

Cada fazenda tem suas particularidades, e as variáveis envolvidas podem variar amplamente. Por isso é fundamental que você faça suas próprias contas, adaptando as análises à realidade do seu negócio.

Saber avaliar de forma pontual (ex: o que será feito na seca, confino ou não os animais) é importante, mas é igualmente crucial, ou até mais, pensar de forma sistêmica. Isso significa considerar não apenas a situação atual, mas também as implicações das suas decisões no curto e médio prazo.

Avalie como a estratégia se encaixa na produção geral da fazenda e o impacto potencial no futuro. Uma visão abrangente ajuda a garantir que as mudanças não apenas tragam consequências imediatas, mas também sustentem o sucesso a longo prazo. Além das análises apresentadas, que servem como uma base prática e direta para o dia a dia, existem muitas outras abordagens e ferramentas que você pode utilizar. As análises de custo-benefício e o cálculo do ganho necessário para cobrir investimentos são apenas dois exemplos de “contas de padeiro” que ajudam a ponderar rapidamente sobre uma estratégia.

Seguimos…

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